sábado, 23 de fevereiro de 2013

Reflexões sobre a ciência 3

Acredito que este será o último post dessa série de reflexões sobre a ciência, farei minhas considerações finais sobre o que penso do assunto.

No primeiro post da série eu falei sobre a ciência não tratar de verdades absolutas, mas sim de modelos cuja única relação que eles têm com a realidade é uma capacidade limitada de previsão de um evento real. Isso não significa que o modelo seja uma descrição exata e perfeita da realidade por trás do evento modelado. A ideia fica clara se pensarmos na física Newtoniana, que trata de modelos que descrevem muito bem uma gama de eventos reais, mas que Einstein depois mostrou estar faltando um detalhe, e assim complementou o modelo inserindo novas informações.  O modelo de Newton continua sendo usado, mas sabemos que não é uma descrição perfeita e exata da realidade. O mesmo pode acontecer um dia com o modelo de Einstein, com novas pesquisas e dados inserindo mais fatores ao modelo, e isso acontecer infinitamente sem que nunca se chegue ao modelo final que realmente seja a descrição do que está por trás dos eventos reais.
Podemos então, a partir desse ponto, dar mais um passo e perceber que o modelo criado cientificamente não obriga a realidade a se comportar da maneira prevista. Quero dizer que o modelo não garante que a realidade sempre se comportou, se comporta e sempre se comportará da maneira prevista por ele.  O modelo nos diz que todas as vezes que o evento foi repetido de forma controlada, medido e registrado, a realidade se comportou da mesma maneira, mas ele não nos diz nada sobre os eventos nunca registrados. Isso é um exemplo do chamado problema da indução.  Concluímos então que o êxito de um modelo é algo totalmente estatístico, uma estatística de 100%, mas ainda sim uma estatística. É como uma pesquisa eleitoral, mesmo que um candidato tenha 100% de aceitação na pesquisa, nós sabemos que é possível que os outros candidatos recebam um número considerável de votos na eleição real.
Por fim, a ciência também precisa lidar com hipóteses não testáveis, e isso pode gerar muita confusão até mesmo para os melhores cientistas. Por exemplo, quando falamos de eventos passados não reproduzíveis ou verificáveis. Nestes casos não podemos falar em provas, mas em evidências a favor e contra. A ideia é juntar os fatos e verificar se as evidências a favor de tal hipótese estão mais próximas da realidade esperada, e também explicar como as evidências contrárias se encaixam no modelo proposto. Assim, com uma análise criteriosa, podemos dizer que tal evento passado possivelmente aconteceu de tal maneira. Nada impede que novas evidências surjam e mude o rumo das coisas, então novos modelos devem ser pensados para encaixar os novos dados. Portanto, quando estamos falando de eventos passados dos quais não se tem um registro criterioso, como, por exemplo, o “big bang” e a evolução a partir de um único ancestral comum, devemos mais ainda ter o cuidado, e a humildade, de não tratar como fatos ou verdades comprovadas, mas sim como hipóteses a ser constantemente avaliadas.
Concluindo então a série de posts, temos a ciência com seu escopo bem definido, assumindo as crenças necessárias para se fazer ciência, e desmistificando supostas verdades absolutas, podemos fazer melhor ciência, mais humilde e realista, focando no que realmente importa. Assim temos a pesquisa científica como uma fascinante forma de se obter conhecimento útil para a humanidade.

Fonte da imagem: http://jjkiefer.deviantart.com/art/Albert-Einstein-285400074

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